Por que você não deve sair comprando medicamentos para Covid-19
Na semana passada o anúncio feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que os medicamentos Cloroquina e Hidroxicloroquina
Na semana passada o anúncio feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que os medicamentos Cloroquina e Hidroxicloroquina demonstraram resultados iniciais positivos em estudo realizado em pacientes infectados pelo novo coronavírus, provocou uma corrida às farmácias do país e não foi diferente em nossas cidades.
Estas drogas são comercializadas no Brasil com aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária apenas para o tratamento de doenças autoimunes como Artrite reumatoide e Lúpus Eritematoso Sistêmico e ainda da Malária, que é uma infecção parasitária mais comum no Brasil nos estados da Amazônia Legal e nas regiões a oeste do Estado do Maranhão, ao noroeste do Estado do Tocantins e ao norte do Estado do Mato Grosso.
De fato, os resultados são promissores, porém é preciso muita cautela. No estudo realizado na China, a Hidroxicloroquina inibiu efetivamente a etapa de entrada do vírus na célula assim como estágios celulares posteriores relacionados à infecção pelo SARS-CoV-2, e este efeito também foi observado com a Cloroquina. Desta forma, os medicamentos estudados podem estar significativamente associados à redução / desaparecimento da carga viral em pacientes com COVID-19. Contudo, o tamanho da amostra deste estudo é bastante pequeno, apenas 20 pacientes foram tratados e assim mais pesquisas precisam ser realizadas, para demonstrar principalmente a segurança e eficácia.
Alguns hospitais em São Paulo estão testando estes medicamentos em pacientes internados em estado grave, com o consentimento de familiares, porém em outras situações o uso é contraindicado, visto que o seu consumo pode desencadear reações adversas que incluem desde problemas na visão, insuficiência cardíaca, até o desenvolvimento de comportamento suicida.
Da mesma forma o uso para prevenção não tem comprovação científica. A busca desenfreada da população para adquirir, indevidamente, esses medicamentos, levou a ANVISA a enquadrá-los como medicamentos de controle especial para evitar o desabastecimento no país. Lembrando que o SUS distribui esses itens dentro dos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica, porém existem casos em que o usuário não se enquadra nos critérios do programa e acaba tendo que adquirir na rede de farmácias privadas.
É necessário que as pessoas se conscientizem e mais do que isso, sejam empáticas com os portadores dos quadros impactados neste caso. Se você adquiriu desnecessariamente devolva na farmácia para que aqueles que realmente precisam não corram o risco de ficar sem tratamento.
Texto por Karla Brun Ribas Pinto
Karla Brun Ribas Pinto é farmacêutica, cordenadora da Assistência Farmacêutica no município de Rio Negro e docente da Universidade do Contestado – UnC Mafra.