Entrevista: “A política maior agora é defender a vida das pessoas”

O médico neurologista e deputado estadual Dr. Vicente Caropreso é o entrevistado desta semana, e fala sobre política e saúde em SC.

Dr. Vicente Caropreso, deputado estadual (PSDB). Foto: Divulgação

 

 

O deputado estadual Dr. Vicente Caropreso é um médico neurologista e político de larga atuação. De 1997, quando se elegeu vereador em Jaraguá do Sul, até hoje, exerceu os cargos de deputado federal (1999 a 2003), secretário de estado da Saúde (2019) e ocupa cadeira na Assembleia Legislativa desde 2015. Com toda essa experiência, tem uma visão privilegiada do atual momento que passa o Brasil.

 

Presidente da comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência e vice-presidente da comissão de Saúde, o parlamentar é crítico da postura “titubeante”, como classifica, do governo federal, Dr. Vicente Caropreso entende que apenas a vacinação em massa vai nos devolver à vida normal. Nascido em Blumenau há 64 anos, mas morador de Jaraguá do Sul desde 1984, Caropreso comemora o andamento da duplicação da BR-280 na sua região, o que aponta como “uma grande vitória”.

 

Nesta entrevista exclusiva à coluna Pelo Estado, o deputado estadual do PSDB fala sobre todos estes temas e também das eleições de 2022, cuja campanha já começou.

 

Qual a balanço o senhor faz do enfrentamento da pandemia e qual a sua avaliação dos desempenhos dos governos estadual e federal?

Santa Catarina teve um enfrentamento diferenciado de outros estados. Aquela parada toda de praticamente um mês no início serviu para o governo estadual se preparar para a primeira onda que aconteceu entre julho e agosto de 2020. Mas aquilo não foi suficiente. De lá para cá, devido à instabilidade política e a pressões econômicas houve um afrouxamento muito grande das medidas sanitárias e restritivas e o resultado estamos colhendo agora. No final do ano passado, com, vamos dizer assim, um ‘chamamento público’ de tantas e tantas pessoas de várias partes do Brasil que vieram para cá, o que aumentou muito a circulação do vírus. Em relação ao governo federal, estamos no quarto ministro da Saúde e é o primeiro que fala sobre o valor da máscara como modo de prevenção. Aqui no estado tivemos uma campanha muito tímida pela secretaria de Comunicação do Estado, para ajudar no enfrentamento. As pessoas têm que ser levadas pela emoção para que colaborem no enfrentamento da pandemia.

 

Em relação à vacinação, qual sua avaliação?

Alguns índices parecem que estão melhorando um pouco, muito por conta do ritmo lento, a conta gotas, da vacinação. Aprovamos uma lei, de autoria do deputado Neodi Saretta (PT), em que eu fui o relator, autorizando o Estado a comprar vacinas, desde que, lógico, tivesse a aprovação da Anvisa. Da mesma forma os municípios, através dos 13 consórcios de Saúde espalhados no Estado. Dos 295 municípios, 265 assinaram uma carta de intenções junto ao governo da Bulgária, que produz a vacina Sputinik, para trazer 4,7 milhões de doses para a massificação da vacina em Santa Catarina. Só assim a gente vai ter uma luz no fim do túnel.

 

O presidente Jair Bolsonaro esteve em Chapecó e não falou em tratamento precoce, mas defendeu a liberdade do médico. O senhor, como médico, o que acha?

Essa discussão de dar tratamento precoce, dar tratamento ‘não sei o que’, eu já deixei bem claro: não vou perder tempo com isso. O problema é que no Brasil foi se criando uma massificação de algumas situações que a ciência não dá respaldo. E, talvez, este seja um dos motivos pelo qual as pessoas relaxaram achando que estavam imunes e não precisavam respeitar as medidas de restrições. Isso foi ruim, deixou o país dividido, tanto entre a sociedade, quanto imprensa e na classe médica. Essa liberdade apregoada deixa a saúde pública sem um norte.

“Me preocupa muito o cansaço das equipes de saúde, que estão na linha de frente. Nós precisamos destacar muito o esforço dessas pessoas.”

 

Como o senhor vê a atuação dos profissionais de saúde?

Me preocupa muito o cansaço das equipes de saúde que estão na linha de frente. Não sei como eles estão conseguindo, com essa garra toda. Hoje, quando estamos fazendo essa entrevista, é o Dia Mundial da Saúde, e nós precisamos destacar muito o esforço dessas pessoas, dessas estruturas de saúde, que tem muitas pessoas envolvidas. Então, se por um lado o Brasil tem muitas instalações de saúde, por outro temos muita necessidade de um discurso unificado.

 

O que achou da escolha da deputada Carmen Zanotto para a Saúde?

Eu sou otimista em relação à Saúde. O ex-secretário André Motta é meu amigo, trabalhou comigo na secretaria, mas acho que num determinado momento, tanto ele quanto o governador acabaram recebendo muitas pressões que levou a um relaxamento das medidas. A Carmen já ocupou o cargo de secretária por muito mais tempo, tem uma visão de Estado forte, tem um trânsito por Brasília muito grande, tem o respeitos de várias instituições, enfim, acho que ela tem um discurso e uma postura que podem ajudar. Eu desejo tudo de bom e me coloco à disposição. Se conseguir seguir em frente sem ser pressionada, acho que temos todas as condições de 30 a 45 dias a situação estar bem melhor, tanto pelo ritmo de vacinação quanto pela redução de internações. Santa Catarina é diferenciada porque temos equipes da saúde da família em mais de 85% do território catarinense. Então, quando se pergunta porque o índice de letalidade é tão baixo em relação ao país e aos demais estados é porque nós temos uma malha muito forte das equipes de saúde da família. E isso nos dá um respaldo muito grande.

 

Como está vendo a principal obra da sua região, a duplicação da BR-280?

Em Jaraguá do Sul está se materializando uma grande vitória que é a BR-280, um trecho estadualizado entre Jaraguá e Guaramirim, uma obra portentosa de quase R$ 200 milhões, cujo a primeira parte está quase no fim, de cerca de R$ 115 milhões e esperando agora a liberação do resultado final do edital para que seja dada a ordem de serviço de R$ 58 milhões. Ainda tem algumas dificuldades de indenizações, mas tenho certeza de que serão resolvidos. Eu diria que essa seja uma grande conquista do meu mandato.

 

O senhor tem um projeto em relação às notas fiscais, pode explicar?

É um projeto que se assemelha à nota fiscal paulista. Quando você faz uma compra no comércio tem direito a uma nota fiscal. Meu projeto prevê que parte deste ICMS possa ser redirecionado, através de um aplicativo, para entidades filantrópicas, culturais ou esportivas, enfim, a pessoa física que define onde vai o dinheiro. Isso faz com que as pessoas fiquem estimuladas a exigir nota e com isso aumenta a arrecadação do estado, sendo distribuído parte para algumas instituições que vivem de pires na mão. Para se ter uma ideia, em Alagoas tem uma instituição que trata do câncer em criança, que consegue se manter em boa parte por um projeto dessa natureza. O projeto está tramitando, enfrenta algumas barreiras, mas acho que seria uma grande possibilidade de ajudar a essas instituições.

 

A campanha para 2022 está antecipada. O senhor acha disso?

O presidente da República está falando de política desde o primeiro dia de mandato, e outros pré-candidatos também. Isso tem um custo social, um custo econômico e também o custo de vidas. Isso causa problemas sérios no Brasil. Grandes decisões são tomadas não com base na racionalidade, mas sim com base nos interesses político-eleitorais com olho em 2022. Isso é ruim para nós como nação. Mas o fato é que está acontecendo, paciência. No ano que vem nós teremos eleição e é impossível que os agentes políticos comecem a se movimentar. Nesse sentido, o PSDB terá candidato e quem se apresenta é Gelson Merisio, mas ainda tem muita água para rolar até lá, tem muita situação que a gente tem que interagir com quem está no poder, seja o governador afastado ou a governadora que está em exercício. Mas a política maior agora é defender a vida das pessoas.

 

“Em 2022, o PSD terá candidato ao governo do Estado e o nome que se apresenta é o de Gelson Merisio. Mas tem muita água para rolar até lá.”