Empresários riomafrenses falam sobre os desafios da quarentena
Com o retorno do comércio na última semana, o clima entre os empresários é de muita cautela.
O comércio celebrava um cenário bastante favorável em fevereiro deste ano, antes da pandemia provocada pelo novo coronavírus. Dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná (Fecomércio PR) demonstravam alta do índice de Intenção de Consumo das Famílias, alta do índice de Confiança do Empresário do Comércio e queda da Inadimplência do Consumidor.
No entanto, a primeira Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) realizada após o início da pandemia pela CNC e divulgada na última terça-feira (14), demonstrou os reflexos negativos imediatamente associados à doença e ao fechamento dos estabelecimentos em geral. O número de famílias com dívidas em cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro bateu recorde em abril de 2020, alcançando 66,6%. Segundo o presidente da CNC, José Roberto Tadros, o endividamento também cresceu em razão da ampliação do crédito ao consumidor, através das medidas governamentais que buscaram manter o poder de compra dos brasileiros.
Em Riomafra, o comércio vem retomando as atividades desde semana passada, mas o clima entre os empresários é de muita cautela. Para o empresário Aécio Hellinger, o reinício dos trabalhos não trouxe surpresas, pois já era esperado um comportamento mais retraído dos clientes neste momento. “As pessoas tem medo de realizar compras, tanto pelas questões de insegurança financeira quanto por medo de entrar nas lojas”, observa.
A expectativa do empresário é que o mês apresente uma média de 45% de queda nas vendas, se comparado ao mesmo mês do ano passado. Para ele, os próximos três meses deverão ser os mais difíceis para o comércio em geral, sendo que a retomada das vendas é esperada para o último trimestre do ano.
“Sabemos também que o cliente pós-coronavírus será um cliente totalmente diferente. A tendência será sempre a opção por facilidades de pagamento a distância e mais pessoas optando pela prova de produtos em consignação”, prevê. Como a meta é manter toda a equipe de funcionários e vencer juntos as dificuldades trazidas para o comércio, a loja também investiu no reforço das estratégias de prevenção ao Covid-19.
Na entrada do estabelecimento, o cliente encontra todas as informações sobre as restrições impostas à circulação de crianças e cuidados com idosos nos estabelecimentos. Além disso, aqueles pertencentes aos grupos de risco recebem máscaras e luvas já na entrada. Todo cliente que acessa o estabelecimento também caminha por um recipiente de higienização dos calçados e é atendido observada a distância recomendada pelas autoridades. “Além disso, Toda mercadoria que retorna da consignação consignado é higienizada antes de voltar para o mostruário”, reforça Aécio.
Já o gerente de uma loja de calçados riomafrense que preferiu não se identificar, avalia que os próximos 60 dias deverão ser bastante complicados para o setor, com quedas de até 50% nas vendas em relação aos meses anteriores. Para ele, setores ligados à moda deverão ser os que mais sofrerão nos próximos seis meses. “As pessoas estão em pânico nas primeiras semanas da quarentena e se retraem em relação aos produtos que julgam supérfluos”, explica.
Na loja de calçados, para manter as atividades, foi necessário realizar a redução de 30% no quadro de funcionários. Outros 20% tiveram as férias antecipadas. A expectativa é de que a normalidade seja retomada apenas daqui a seis meses, se as estratégias de prevenção forem bem sucedidas.
Jaqueline Buch é representante de vendas de uma floricultura em Rio Negro e também reiniciou as atividades após a adoção das diversas medidas de prevenção. No entanto, a primeira semana de trabalho ainda deixou bastante a desejar no que diz respeito à movimentação de clientes. No entanto, a expectativa é de recuperação nos próximos dias, tendo em vista a chegada do dia das mães, e o sistema de entregas que a empresa sempre adotou e fortaleceu a partir do isolamento social. A comerciante também mantém o otimismo para a recuperação, uma vez que sente a disposição daqueles que possuíam parcelamentos em manter suas contas em dia. “Estamos na torcida para que todos possam se recuperar e tudo melhore”, enfatiza.
Medidas para recuperação
Nas últimas semanas, diversas medidas adotadas pelo governo visaram reduzir os efeitos negativos causados pelo isolamento social aos empresários. Confira algumas das medidas:
- Adiamento e parcelamento do FGTS dos trabalhadores
- Prorrogação do pagamento dos tributos do Simples Nacional
- Adiamento do PIS, Pasep, Cofins e da contribuição previdenciária
- Redução do IOF sobre operações de crédito
- Redução da contribuição obrigatória ao Sistema S
- Prorrogação do prazo de entrega da declaração do Imposto de Renda
- Redução de IPI de produtos médico-hospitalares
- Redução de imposto de importação de produtos médico-hospitalares
- Prorrogação da validade de certidões de débitos e créditos tributários