Mães contam histórias de coragem e superação pelos filhos

Em entrevista ao Riomafra Mix, mães compartilharam histórias de dor, luta e sobretudo, superação.

Todo mundo sabe o valor insubstituível que cada mãe tem para os filhos. No entanto, a maternidade é especialmente marcada pelo sacrifício e gestos extraordinários de algumas mulheres que não mediram esforços pela realização dos filhos. Em entrevista ao Riomafra Mix, três delas compartilharam histórias de dor, luta e sobretudo, superação.

“Prova de fé”

Lisiane Maria Andrade Duarte sempre teve o sonho de ser mãe. “Desde pequenininha eu sonhava que um dia teria meus próprios filhos, o sentido da vida pra mim era crescer e ter filhos”, conta.  E foi assim que a jovem descobriu o maior desafio da sua vida.

Até o nascimento do pequeno Theodoro, hoje com 4 anos, Lisiane passou por três gestações mal sucedidas. “Fiquei grávida em 2013. Foi um misto de medo e alegria, porque era algo que eu sempre quis, apesar de não ter ainda muito conhecimento sobre a maternidade. Descobri a gravidez com 12 semanas e no ultrassom já pude ver a Maria Sofia toda formadinha, foi uma alegria imensa”, conta. 

Para a mamãe Lisiane, a vinda do pequeno  Theo foi uma “prova de fé”

Porém, com 18 semanas de gestação, Lisiane viu seu sonho interrompido. “Quando estava em casa, senti um líquido escorrendo pelas pernas, liguei pra minha mãe, que me mandou ir direto para o hospital. Chegando lá, fizemos o ultrassom, vimos que já havia perdido todo líquido amniótico e aí perdemos o bebezinho”, relata. Segundo a mãe, o relatório médico considerou a perda algo comum para uma primeira gravidez e nenhum problema de saúde fora detectado na ocasião.

Passados alguns meses, Lisiane engravidou novamente. A gestação de Maria Clara estava em 21 semanas quando ela novamente voltou a sentir contrações e, mesmo tomando todos os cuidados, Lisiane acabou novamente adiando a maternidade. Ela conta que foi nessa situação que acabou descobrindo que possuía insuficiência istmo cervical, condição que gera dificuldade em manter o feto no útero e impede que uma gestação chegue até o final. “Após esse diagnóstico, pensei que ao saber qual era o problema, poderia voltar a ter esperança de que ainda teria o meu filho, que ia dar certo”, reforça.

Para a rionegrense, a verdadeira prova de fé veio na terceira gestação, quando esperava pelo pequeno Oscar Jonas, nome escolhido pelos pais em homenagem aos avós. “Fiz a cerclagem que é o procedimento indicado para o problema, mantive repouso, ficava em pé cinco minutos por dia, pedi licença no trabalho; me dediquei somente à gravidez. Mas com 23 semanas, vi tudo acontecer de novo. Corremos para a maternidade, o Oscar nasceu com vida, foi para a UTI, teve uma parada cardíaca, foi reanimado. Mas na segunda parada não resistiu e novamente perdemos nosso filho. Neste momento senti uma revolta muito grande e o médico sugeriu que eu não voltasse a tentar ter filhos”, conta.

Mas ela não desistiu. “No fundo do meu coração eu tinha a certeza que Deus colocou esse sonho em mim e não era à toa, e que essa promessa seria cumprida em minha vida”, ressalta. Após a perda, Lisiane encontrou um especialista em Campinas para tentar novamente ter um filho em seus braços e, após um novo procedimento cirúrgico, ela conseguiu realizar o sonho de ser mãe. O pequeno Theodoro nasceu em 2016 após 31 semanas de gestação e com ele, um novo desafio foi apresentado. “Ele ficou na UTI e todo dia eu sentia a benção de ter aquele filho e o medo de perder, via o sofrimento de outras mães também na mesma situação. Quando ele foi pra casa foi uma vitória”.

Atualmente, Lisiane diz que busca todos os dias retribuir a gratidão que sente pela vida de Theo, tentando ser útil para outras mães. Ela se propôs a sempre doar todas as roupinhas do bebê assim que que ele crescia, bem como brinquedos que ele não usava mais. Passou a compartilhar sua vivência com mães que também passam pelos mesmos desafios e mais recentemente, se tornou Conselheira Tutelar do município.  Para ela, somente ao se tornar mãe é que ela pôde entender a sua própria mãe. “Somos mais parecidos com elas do que imaginamos”. E para o pequeno Theo, ela espera que ele conserve ainda muitas qualidades da vovó. “Da minha mãe, quero que ele leve consigo qualidades como a honestidade, a capacidade de fazer sempre o bem e aquela fé inabalável que ela sempre me ensinou”, ressalta. 

Para as mulheres que compartilham do mesmo sonho, Lisiane aconselha: “façam tudo que for possível. E deixem o restante para Deus, que Ele fará o impossível”. 

Ser mãe é se atirar no escuro

“O médico me chamou e disse: segunda-feira você leva sua filha para Curitiba para fazerem a amputação da perna. Então eu respondi que não ia levar de jeito nenhum e que era mais fácil tirar um pedaço meu, do que tirar um pedaço dela. Ele perguntou se eu tinha coragem. E eu disse: tenho! No dia seguinte fizemos a cirurgia”.

O relato da dona de casa Izulina Pereira resume os 8 anos de sofrimento vividos pela filha, Salvelina Pereira.  Aos seis anos de idade, ela manifestou os primeiros sintomas da osteomielite na perna direita, doença que atinge ossos como fêmur e tíbia e sobre a qual muito pouco se sabia na década de 1980.  Ela passou por um primeiro tratamento ainda sem o diagnóstico preciso e não melhorou da doença. Aos 11 anos de idade, realizou a primeira intervenção cirúrgica e quando acreditou que estava começando a se curar, é que a verdadeira provação começou para a mãe e a filha.

Mãe e filha se emocionam ao recordar ato de coragem de Izulina

“Ela ficou dois anos sem andar, ia do hospital pra casa o tempo todo. Depois de sete cirurgias, o sofrimento dela era tamanho, que eu saía chorar no corredor quando faziam curativos” conta Izulina. Segundo a mãe, que na época tinha outros dois filhos pequenos, as equipes médicas tentaram usar prótese de titânio, corrente de pérolas e outros enxertos que eram comuns na época, mas em todas as tentativas, houve rejeição. “Foi aí que o médico sugeriu a amputação”, explica.

Diante da negativa da mãe, um último recurso foi realizado: através de um procedimento cirúrgico que trazia risco de paralisia também para a doadora, Izulina cedeu parte de tecido muscular e tecido ósseo retirados da região pélvica para a filha. “Eu não queria de jeito nenhum, sabia do risco que ela corria, quando me levaram para o Centro Cirúrgico e a vi, tiveram que me sedar”, lembra Salvelina. 

O desafio vivido pela mãe teve o resultado esperado. Apesar de ela mesma ter ficado três meses sem movimentos, com algumas sequelas e a filha passar por dois anos de reabilitação até poder caminhar novamente, Izulina diz que faria tudo de novo. “Me atiraria no escuro por meus filhos sem pensar. Sei que foi uma coragem que surpreendeu até o médico, mas faria tudo de novo”, diz a mãe.

“Se não fosse ela, só Deus sabe o que seria da minha vida hoje”, afirma a filha, que há 14 anos ingressou na enfermagem como meio de fazer pelos outros o que a mãe fez por ela.

Para Izulina, o que o sofrimento deixou de lição para seus três filhos é o amor ao próximo. “Quero que meus filhos sejam sempre inspirados por ajudar os outros. Os menores, que cresceram vendo o sofrimento da irmã, hoje entendem o valor de não desistir jamais, de manter a fé e sempre fazer tudo que estiver ao alcance deles”, conclui. 

Viva seu sonho

“Eu vou todo dia pra faculdade como se estivesse comendo um doce. Eu penso: meu Deus, eu estou aqui!”, diz Maricléia Rogaleski. Todos os dias ela e a filha mais nova vão juntas para a universidade. A mais velha também foi colega da técnica de enfermagem, que começou a cursar o ensino superior quando ela já estava no último ano da graduação. 

O esforço incansável de Maricléia foi reconhecido com prêmio em forma de bolsa de estudos do clube de Soroptmistas de Mafra, intitulado “Viva seu sonho”. Mas para a mãe, o prêmio representa anos de muita abnegação e sacrifícios. 
Maricléia conta que, devido aos problemas familiares, conseguiu estudar somente até a 5ª série do ensino básico. Após a separação dos pais, aos 11 anos, ela se tornou agregada de uma família na cidade de Curitibanos e passou a cuidar dos filhos de um casal, com quem conviveu até os 18 anos. “Era como filha adotiva, só que pra trabalhar”, explica.

Filhas estudantes são inspiração para a mãe Maricléia, estudante de enfermagem

Sem poder dar continuidade aos estudos, Maricléia conta que engravidou do namorado aos 18 anos. “Quando contei pra ele, ele já tinha voltado pra sua cidade natal, que era em Itaiópolis, e ele não acreditava que era verdade. O casal que me abrigava disse que eu era uma vergonha, tomei uma surra e fui expulsa”, explica.

Segundo Maricléia, quando soube do nascimento da filha, o namorado a levou para Itaiópolis, onde juntos e com muita dificuldade, começaram a construir a vida. “Fiquei um ano e oito meses desempregada e, quando finalmente ele conseguiu comprar um terreno, mudamos para nossa casa sem estar acabada, sem luz, sem água e até sem janelas”, recorda. 

Quando engravidou da segunda filha, aos 24 anos, as dificuldades só aumentavam para Maricléia. Ela trabalhava das 5 horas da manhã até as 13h30 na indústria e precisava se virar para criar as duas meninas. Ela diz que foi aí que encontrou uma grande amiga, que a ensinou também a ser mãe. “A Ana me ajudou a cuidar das filhas, me ensinou a ser dona de casa, me ensinou a ser mãe, foi minha mãe também”.

O foco em não permitir que as filhas passassem pelas mesmas dificuldades vividas por ela, fez Maricléia aos poucos, retomar os estudos. “Eu sentia o ‘cheiro’ da escola nos materiais delas, me realizava com as conquistas delas nos estudos. Assim, fui fazendo cursos profissionalizantes, que também me ajudavam com a renda da família”, conta a mãe estudante, que já foi manicure e vendedora de cosméticos. Aos poucos, ela voltou a estudar e, com cursos supletivos, concluiu o ensino médio.

O sonho de estudar reacendeu quando a filha mais velha trouxe a ela o orgulho de entrar para a graduação em fisioterapia. Quando ela estava prestes a se formar, Maricléia decidiu que já era hora de investir no seu sonho e atualmente é estudante de enfermagem. 

A mãe, que inspirou e motivou as filhas, vê nelas sua grande inspiração para continuar. “Disse para as minhas filhas que elas iam ter a vida que eu nunca tive. Tenho orgulho de ver que foram criadas com independência e autonomia. E hoje sei que posso ser mãe, dona de casa, profissional e mulher; posso ser tudo que eu sonhar”, celebra a mãe.

Para a enfermeira, ser Mãe é provar todos os dias a capacidade de superação. “Só Deus sabe explicar que sentimento é esse, que nos coloca a prova todos os dias e, quando você não sabe o que fazer, Ele vem em teu auxílio naquela hora certa”, pontua.